O medo e o filme “Órion e o medo do escuro”

Todos sabemos como é. Pode vir um frio, um embrulho no estômago, ficamos ofegantes, suamos e até trememos, tudo ao mesmo tempo. Pois é, o medo é uma das emoções mais desconfortáveis para nós. Outro motivo de incômodo é seu gatilho universal: ele aparece quando há uma ameaça de sofrermos algum tipo de dano, seja ele real ou imaginário. 

Por isso, entre seus estímulos está ele, o escuro. Porque no escuro não vemos com clareza. Não sabemos se aquela forma é a de uma folha, ou de uma barata. Se realmente tem alguém no seu quarto, ou se é apenas o mancebo, com várias roupas penduradas. Isso porque estamos na cidade, por vezes em um prédio, dentro de um apartamento. Trancado. Seguro. Mas imagine andar sozinho por uma floresta escura, sem lanterna. Medo.

E isso porque somos adultos. Mas o medo do escuro é uma questão frequente de crianças, cuja imaginação fértil facilmente vê um monstro debaixo da cama, ou dentro do armário. Quem garante que não há? 

Esse tema foi abordado de forma muito delicada no filme “Órion e o medo do escuro”, lançado este ano pela DreamWorks. Na animação, o carismático Escuro – uma personificação da ausência de luz –, fica chateado por ser tão mal visto pelas pessoas. Então ele convida Órion para embarcar em uma jornada por sua existência: passar um dia inteiro com ele. 

Vale lembrar que o menino se considerava muito medroso. O filme começa com uma longa lista de todos os seus medos, variando de altura a abelhas. E a escuridão é o maior deles. Então, enfrentar seu maior temor, dar as mãos a ele e encarar o desconhecido – onde poderiam estar inúmeras ameaças – não é uma tarefa fácil.

O que acontece no escuro? Como a ausência de luz afeta a natureza, os animais, os humanos e a vida no planeta? Como seria a vida sem ele, com o Sol reinando sobre a Terra todos os dias, sete dias por semana, 365 dias por ano, sem descanso? A animação aborda todas essas questões.

Mas além desse ser um filme infantil, em que as crianças podem aprender a não ver o escuro como algo ameaçador, há componentes para toda a família. A obra traz reflexões profundas sobre o enfrentamento de nossos temores, muitas vezes advindos do desconhecido. O medo do escuro é o de algo que não estamos vendo.

Ou seja, quando Órion se permite explorar o que teme e descobrir do que realmente se trata, percebe que não há motivos para temer. Trata-se de uma alusão a como encaramos a vida, seus mistérios e aquilo que não controlamos.

Podemos ter medo de fazer um exame médico, de abrir um e-mail do chefe, de começar nosso próprio negócio, de participar de uma competição… Tudo porque não sabemos no que vai dar. Ou seja, o estudo das possibilidades, a preparação e o conhecimento são elementos que podem dissipar, ou minimizar esse medo. Mas, em alguns casos, não tem jeito: é preciso dar as mãos ao medo e se jogar. Só assim saberemos. Só assim Órion soube.

Texto: Marcela Braz.