Abuso de telas: como saber se há excesso de consumo?

Prezados(as) educadores(as),

Vivemos um tempo desafiador e, ao mesmo tempo, repleto de possibilidades. A tecnologia, sem dúvida, é uma grande aliada da educação, mas seu uso desenfreado tem mostrado consequências que não podemos mais ignorar. O excesso do consumo de telas entre crianças, adolescentes e, muitas vezes, adultos da comunidade escolar tem gerado impactos significativos na saúde física, mental e emocional das pessoas. E é nosso dever, como educadores, refletir e agir com consciência sobre essa realidade.

Nas escolas, os reflexos do abuso de telas têm se manifestado de forma silenciosa, mas alarmante. Michel Desmurget, escritor e pesquisador em neurociência, e o psicólogo social Jonathan Haidt são enfáticos em suas obras ao indicar que alterações no sono, sedentarismo, dores musculares, ansiedade, irritabilidade e dificuldades de atenção e concentração estão entre os efeitos mais comuns. 

Crianças pequenas, privadas de interações humanas reais e de brincadeiras ao ar livre, têm demonstrado atrasos no desenvolvimento da linguagem e nas habilidades socioemocionais. Adolescentes, por sua vez, cada vez mais imersos em redes sociais, enfrentam um bombardeio de estímulos que muitas vezes os afasta de si mesmos e dos outros.

Ainda segundo os autores, no contexto acadêmico, o impacto é direto: dificuldade de foco, queda no rendimento escolar, desmotivação para os estudos e aumento nos índices de evasão. Afinal, competir com o universo atrativo das telas — feito sob medida para capturar a atenção — é uma missão quase impossível se não houver engajamento afetivo, propósito e relações de confiança no ambiente escolar.

 

Como saber se o tempo de tela está mesmo em excesso?

Essa é uma pergunta importante e, para respondê-la, precisamos ser realistas. Não se trata de demonizar a tecnologia, mas de usá-la com sabedoria. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças de até 2 anos não tenham acesso a telas. Entre 2 e 5 anos, o limite sugerido é de até 1 hora por dia, com supervisão. Entre 6 e 10 anos, entre uma a duas horas por dia. Dos 11 aos 18, entre duas e três horas diárias. 

O ideal é equilibrar o tempo de tela com outras atividades: brincadeiras, esportes, sono de qualidade, refeições em família e, sobretudo, momentos de interação humana verdadeira. Para adolescentes e adultos, o número de horas pode variar, mas um sinal de alerta deve surgir quando o uso de telas começa a interferir no sono, nos relacionamentos, no rendimento escolar ou profissional, ou quando há sinais de irritação ao ficar off-line. 

Para professores, que muitas vezes precisam usar dispositivos eletrônicos em sua prática pedagógica, o desafio é encontrar pausas conscientes, buscar atividades de descanso digital e lembrar que o equilíbrio também precisa ser cultivado em suas próprias vidas. Nesse sentido, a restrição do uso do celular na escola foi um grande avanço.

Cabe à instituição estar atenta. Professores e diretores são observadores privilegiados do comportamento dos alunos e podem identificar sinais de alerta: queda no desempenho, apatia, dificuldades de socialização, excesso de sono ou cansaço constante. Ao notar tais sintomas, a escuta sensível, o diálogo com as famílias e, quando necessário, o encaminhamento para apoio especializado são ações fundamentais. Indicar uma criança ou adolescente para um tratamento psicológico ou mesmo para um uso mais parcimonioso de telas não deve jamais ter tom acusatório. E sim de acolhimento e cuidado.

 

Até onde vai o papel da escola?

A escola não pode, e nem deve, assumir sozinha essa responsabilidade de construir um uso sadio, responsável e eficaz das telas. Mas ajudará muito se promover campanhas de conscientização, rodas de conversa, oficinas com pais e alunos, projetos interdisciplinares sobre saúde digital e práticas que valorizem o autocuidado e o uso consciente da tecnologia.

Quando escola e família caminham juntas, temos mais chances de formar alunos preparados não apenas para os desafios do mundo digital, mas também para a construção de uma vida com sentido, propósito e bem-estar. E isso vale também para o corpo docente. 

Educadores precisam cuidar de si para poder cuidar do outro. Estabelecer limites no uso de telas fora do horário escolar, praticar momentos de desconexão, investir em autocuidado e manter hábitos saudáveis são atitudes essenciais para mantermos nossa saúde mental em tempos tão acelerados. Isso vale para todos que convivem no contexto da escola: alunos, familiares, educadores e demais funcionários.

A tecnologia deve ser uma ferramenta a nosso favor. E não podemos permitir que ela sequestre nosso tempo, nossas relações, nossa inteligência. Que possamos juntos preservar a escola como um espaço de aprendizado da vida, para a vida, com vida. Isso se faz com reflexão, equilíbrio e humanidade.

 

Com admiração e esperança,

Leo Fraiman.

Psicoterapeuta, palestrante e autor da Metodologia OPEE (Projeto de Vida e Atitude Empreendedora).

4 práticas de ESG para adotar em casa

Quando o assunto é ESG, temos nos deparado com a ecoansiedade, ou ansiedade climática, que tem afetado principalmente crianças e jovens, mais intensamente, diante das perspectivas de alterações climáticas e eventos naturais extremos, como queimadas, enchentes e ondas de calor.

Nesse contexto, na OPEE Educação transmitimos com frequência a importância de termos esperança e, principalmente, como ensina o educador e filósofo Paulo Freire, uma esperança ativa. Ou seja, aquela que não se limita à espera e nos convida às ações de acreditar que é possível e, por isso, transformar a realidade. 

Sabemos que os mais expressivos impactos no meio ambiente são causados por grandes empresas. Mas mudar estilo de vida e padrões de consumo são fundamentais para termos esperança ativa e também pressionar as organizações para transformarem a cadeia produtiva.

Assim, selecionamos quatro práticas de ESG para se adotar em casa, alinhadas à Agenda 2030 e aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU):

 


  1. Planejaneje refeições e reduza o desperdício de alimentos

Antes de ir ao supermercado, faça um cardápio semanal e compre apenas o que realmente será consumido. Armazene os alimentos corretamente, com respeito à temperatura e validade, e utilize as sobras em outras receitas, como sopas, caldos ou tortas. Fique de olho na despensa para não comprar mais produtos que você já tem em casa. Essas e outras medidas evitam que alimentos estraguem na geladeira ou no armário.

Isso é importante porque, segundo a ONU, 8 a 10% das emissões de gases de efeito estufa do mundo estão relacionadas à perda ou desperdício de alimentos. Por isso, a meta 12.3 da Agenda 2030 estabelece reduzir pela metade o desperdício de alimentos per capita no varejo e no consumidor, bem como diminuir as perdas ao longo das cadeias de produção e abastecimento.


  1. Evite o desperdício de energia

Substitua lâmpadas incandescentes e fluorescentes por lâmpadas LED, que consomem até 30% menos energia. Além disso, desligue o chuveiro elétrico durante o ensaboamento, uma vez que é responsável por cerca de 23% do gasto mensal de energia elétrica nas residências, de acordo com o Ministério de Minas e Energia. E, sempre que possível, aproveite a luz natural e use eletrodomésticos como máquina de lavar e ferro de passar quando houver volume maior de roupas ou louças.

Esses hábitos contribuem tanto para diminuir a conta de luz como para reduzir as emissões de gases associados à geração de eletricidade.


  1. Cuide da destinação adequada dos resíduos sólidos

Separe resíduos orgânicos, recicláveis e rejeitos. Para o lixo orgânico (cascas de frutas, restos de alimentos e aparas de vegetais), implante uma composteira caseira em vasos, minhocários ou composteiras de fácil manuseio. Além de gerar menos lixo, isso produz adubo para as plantas. Também separe papel, plástico, metal e vidro para coleta seletiva. Reduza o uso de descartáveis (copos, talheres e embalagens plásticas) e, sempre que possível, reutilize produtos antes de descartá‑los.

Até 2030, a meta 12.5 dos 17 ODS pretende reduzir substancialmente a geração de resíduos por meio de prevenção, redução, reciclagem e reuso. A compostagem doméstica e a coleta seletiva contribuem diretamente para essa meta.


  1. Consuma com consciência e escolha fornecedores responsáveis

Antes de comprar, pesquise sobre o histórico socioambiental da empresa fabricante. Prefira marcas que adotem práticas de responsabilidade social, que envolvem boas condições de trabalho, remuneração justa e não utilização de trabalho infantil. Outro aspecto a se atentar é à responsabilidade produtiva, ou seja, uso responsável de recursos naturais e ter certificações socioambientais. Isso estimula a cadeia a adotar práticas éticas.

Texto: Marcela Braz.

4º Estudo OPEE Educadores Brasileiros 2025 – Como anda a esperança do educador brasileiro?

O “Estudo OPEE Educadores Brasileiros” chega à sua 4ª edição consecutiva, consolidando-se como uma importante iniciativa de escuta e análise do cenário educacional brasileiro sob a ótica de quem vive a escola diariamente: o educador.

Realizada pela OPEE Educação, a sondagem reúne a percepção de milhares de profissionais da rede pública e privada de ensino, de todas as regiões do país, com o objetivo de compreender os desafios, valores, expectativas e transformações vivenciadas no cotidiano escolar ao longo dos últimos 12 meses. A cada ano, o estudo se debruça sobre um tema atual e essencial, permitindo também uma análise evolutiva da motivação e do propósito dos educadores brasileiros.

Confira os temas centrais que nortearam as edições anteriores:

  • 2022 – A motivação dos educadores e os reflexos da pandemia no retorno às aulas presenciais.
  • 2023 – A percepção dos educadores sobre os impactos e desafios da educação na era digital.
  • 2024 – A importância do Projeto de Vida no desenvolvimento integral dos alunos.

Em 2025, o estudo lança luz sobre um tema sensível e fundamental: a esperança do educador brasileiro.

Mais do que um sentimento, a esperança é um motor que impulsiona a permanência, a dedicação e a crença na transformação pela educação, e que ainda carece de um olhar sistemático e aprofundado.

Este estudo busca entender como anda esse sentimento entre os educadores, o que o fortalece, o que o ameaça e, principalmente, o que pode ser feito para cultivá-lo.

Participe respondendo a pesquisa disponível no link ou QR Code abaixo! Sua contribuição é muito valiosa e levará menos de 5 minutos.

https://pt.surveymonkey.com/r/EstudoOPEE25

Celulares nas escolas: como outros países proibiram o uso dos dispositivos

Em janeiro deste ano foi sancionada a nova lei (15.100/25) que proíbe alunos da Educação Infantil e dos Ensinos Fundamental e Médio de usarem celulares e outros aparelhos eletrônicos portáteis em escolas públicas e particulares, inclusive no recreio e no intervalo entre as aulas. Para fins estritamente pedagógicos, que garantam acessibilidade e/ou outras finalidades, o uso é permitido.

Embora o país esteja enfrentando desafios ao se adaptar à nova medida, o movimento não é isolado no mundo. A Itália fez isso em 2007, a França em 2018, a Austrália em 2020, e os Países Baixos em 2024. 

Além disso, a UNESCO – agência educacional, cultural e científica da ONU – recomendou, em 2023, que os smartphones fossem banidos das escolas ao redor do mundo. A Alemanha está estudando como proibir os aparelhos em sala de aula e, segundo a CNN, outras nações com restrições são Espanha, Grécia, Dinamarca, Finlândia, Suíça e México. Ou seja, a tendência é a de cada vez mais países seguirem a recomendação.

Conheça a seguir alguns casos de países que proibiram o uso de celulares nas escolas:


Itália

Ano do banimento: 2007, via circular ministerial; reforçado no Estatuto dos Estudantes de 1998 e em circular de 2022.

Regras principais: dispositivos devem ficar desligados e guardados durante as aulas, a não ser para a realização de atividades educacionais – este adendo foi revogado em 2024. As sanções por descumprimento ficam a critério de cada escola, previstas em seu regulamento interno.

Repercussão: segundo o site Notizie, nunca houve uma aplicação uniforme da norma nas instituições. Cada escola estabeleceu seu próprio regulamento interno para proibições e limitações. E, embora a circular de 2022 tenha confirmado e reforçado a proibição dos dispositivos, tampouco introduziu sanções disciplinares. Em maio de 2025, o Ministro da Educação e Mérito, Giuseppe Valditara, formalizou um pedido às Nações Unidas de recomendação para proibir o uso de celulares por pelo menos 14 anos nas escolas da União Europeia, de acordo com a Agenzia Dire.


França

Ano do banimento: 2018

Regras principais: é proibido o uso de telefone móvel ou de qualquer outro equipamento de comunicações eletrônicas por um aluno nas escolas maternais, elementares e nos colégios, e durante qualquer atividade ligada ao ensino que ocorra fora de suas instalações, exceto para usos pedagógicos ou em locais expressamente autorizados pelo regimento interno. A posse dos celulares, no entanto, era permitida.

Repercussão: segundo o The Guardian, com a medida, as escolas observaram mais interação social, mais exercícios físicos, menos bullying e melhor concentração. Além de haver crianças assistindo a vídeos no banheiro, escondidas. Após um projeto-piloto iniciado em 2024, feito com mais de 50.000 alunos, este ano a França vai reforçar a proibição e separar alunos de seus dispositivos durante todo o dia escolar.


Países Baixos

Ano do banimento: 2024

Regras principais: proibição ampla de celulares, tablets e smartwatches em sala de aula; cada instituição decide o mecanismo de aplicação (caixas de armazenamento, confisco em caso de reincidência, etc.). Os aparelhos só são permitidos se forem especificamente necessários, por exemplo, durante aulas de habilidades digitais, por motivos médicos ou para pessoas com deficiência, de acordo com a Reuters.

Repercussão: houve resistência inicial de parte de estudantes e famílias, segundo o The Guardian. Mas escolas pioneiras, como a Calvijn College, registraram melhora nas interações entre alunos e redução do cyberbullying e das interrupções em aula. Uma pesquisa da Universidade Radboud constatou aumento de foco, atenção e concentração, além de melhor qualidade nas interações sociais. Cerca de 40% dos estudantes relataram desfrutar mais do intervalo, enquanto 37% afirmaram sentir falta dos celulares.


Austrália

Ano do banimento: 2020 em Victoria e 2023 na Austrália Meridional.

Regras principais: telefones devem ser desligados e guardados durante o dia letivo, com exceções para monitoramento de saúde (como diabetes) e atividades pedagógicas autorizadas. Cada escola deve elaborar política local para os procedimentos de implementação.

Repercussão: uma pesquisa do Departamento de Educação de Nova Gales do Sul (NSW) revelou que 87% dos alunos se distraem menos em sala de aula desde que os celulares foram proibidos e 81% observaram melhora na aprendizagem. Houve uma redução de 63% de incidentes críticos envolvendo mídias sociais e 54% menos problemas comportamentais, segundo uma pesquisa semelhante do Departamento de Educação da Austrália Meridional. As informações são do The Australian.

 

Com o tempo, estudos mais abrangentes e de longo prazo, conduzidos em diferentes países, devem fornecer uma visão mais clara sobre os efeitos das proibições de celulares nas escolas, especialmente no desempenho acadêmico, no bem-estar emocional e no comportamento social dos estudantes. No entanto, restringir o uso dos dispositivos apenas no ambiente escolar não é uma solução completa para os desafios associados à exposição precoce e excessiva às telas.

É fundamental que a escola, as famílias e os próprios alunos atuem de forma conjunta. Além disso, cresce a demanda por regulamentações mais rígidas para tornar as mídias sociais mais seguras, éticas e menos viciantes para crianças e adolescentes. Pensando nisso, a responsabilidade pelo uso saudável da tecnologia não deve recair apenas sobre os jovens ou sobre a escola: é compartilhada por toda a sociedade.

Texto: Marcela Braz.

As pessoas são mais bondosas do que acreditamos, diz estudo

Os resultados divulgados no Relatório Mundial da Felicidade 2025 estão bem alinhados às ideias trabalhadas pela OPEE Educação, seja em sala de aula, seja nos conteúdos feitos para famílias e educadores. Entre as conclusões apresentadas na pesquisa, descobriu-se que as pessoas são mais bondosas do que se espera. E acreditar na benevolência dos outros é um dos fatores importantes para influenciar o quanto se é feliz. 

Isso ficou claro com base em evidências globais sobre a devolução de carteiras perdidas. Elas mostram que os indivíduos são excessivamente pessimistas em relação à bondade dos integrantes de suas comunidades. Porque as taxas reais de devolução de carteiras são cerca de duas vezes maiores do que as expectativas dos entrevistados.

Além disso, acreditar que outras pessoas devolveriam sua carteira perdida também é um forte indicador de felicidade da população. As nações nórdicas, mais uma vez, lideram o ranking dos países mais felizes do mundo e também estão entre os primeiros colocados tanto na expectativa como na taxa real de devolução de carteiras perdidas.

Esses achados fazem parte dos temas cuidar e compartilhar do documento deste ano, publicado no fim de março. Ou seja, o objetivo foi mapear o quanto cuidar e se importar com os outros, bem como compartilhar momentos e vivências em família, têm impacto na percepção de felicidade das populações.

Entre as descobertas difundidas na edição atual estão:

  • Compartilhar refeições com outros está fortemente ligado ao bem-estar em todas as regiões do mundo. No entanto, o número de pessoas que jantam sozinhas nos Estados Unidos aumentou 53% nos últimos 20 anos.
  • O tamanho da família está diretamente relacionado à felicidade. Em países como México e na Europa, lares com quatro ou cinco familiares são os mais felizes. No entanto, muitos vivem sozinhos no velho continente.
  • Em 2023, 19% dos jovens adultos no mundo relataram não ter ninguém em quem confiar para obter apoio social, um aumento de 39% em relação a 2006.
  • Mortes por desespero são menos frequentes em países onde atos de bondade são mais comuns.
  • O declínio da felicidade e da confiança social nos EUA e em partes da Europa está diretamente ligado ao aumento da polarização política e do voto anti-sistema.
  • A eficácia dos investimentos em caridade varia drasticamente. Algumas instituições são centenas de vezes mais eficientes em aumentar a felicidade por dólar gasto do que outras.

Esses dados da Gallup World Poll e outras fontes, incluindo a Lloyd’s Register Foundation World Risk Poll, foram analisados por especialistas em ciência do bem-estar. E publicados no Dia Internacional da Felicidade da ONU, 20 de março, pelo Centro de Pesquisa de Bem-Estar da Universidade de Oxford, em parceria com a Gallup e a Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU. 

Com essas informações, é possível entender que a felicidade humana é impulsionada por nossos relacionamentos com os outros. Investir em conexões sociais positivas e em ações benevolentes está diretamente ligado a uma maior felicidade, como explica, na página de divulgação do documento, Lara B. Aknin, professora de Psicologia Social da Simon Fraser University e editora do relatório.

Se antes ser feliz era visto apenas como um reflexo das condições econômicas individuais, o relatório reforça como o suporte emocional, o envolvimento comunitário e a qualidade das relações interpessoais são fatores igualmente determinantes. Então, fortalecer esses aspectos é essencial para termos uma sociedade mais feliz e equilibrada.

Texto: Marcela Braz.

Exercícios de autocompaixão para praticar agora

Desenvolver a compaixão por si mesmo não é um acontecimento do dia para a noite. É um processo que envolve mudar a relação que se tem consigo, que passa por transformar a maneira de nos enxergamos, a crença de como merecemos ser tratados e também requer desconstruir hábitos enraizados nesse relacionamento.

Por isso, seguimos nessa construção com você. Em 2023, enviamos uma newsletter sobre as vantagens de se desenvolver a autocompaixão, disponível no Capacita para as escolas conveniadas. E aqui no blog, ano passado, já publicamos dois exercícios importantes do livro “Autocompaixão – Pare de se torturar e deixe a insegurança para trás”, da pesquisadora americana especialista em autocompaixão Kristin Neff. 

Para continuar nessa jornada, veja abaixo mais duas atividades possíveis de serem iniciadas agora mesmo:

A prática do abraço

Eu sei, eu sei. Só de pensar em se dar um abraço pode ser que surja vergonha, resistência, descrença. Mas já foi provado cientificamente que se abraçar também libera ocitocina – o “hormônio do amor” –, assim como quando o fazemos com outra pessoa.

Esse contato físico proporciona uma sensação de segurança, acalma emoções angustiantes e diminui o estresse cardiovascular, explica Neff no livro. Seu corpo físico não está preocupado se isso é bobo ou não. Ele simplesmente sente as sensações físicas desse tipo de acolhimento e responde positivamente. E o melhor de tudo: fazer isso é gratuito e possível a qualquer momento – considerando quem não tem algum tipo de limitação física.

O mais importante, ao realizar este exercício, é fazer um gesto claro a si mesmo, que transmita amor, cuidado e ternura. Caso você não esteja sozinho, Kristin Neff sugere cruzar os braços disfarçadamente, se apertando com suavidade. Imaginar que se está dando um abraço também funciona, segundo ela.

Praticar se abraçar várias vezes ao dia, quando estiver sofrendo, ao longo de pelo menos uma semana, já te ajuda a desenvolver o hábito de se confortar quando necessário. E são pequenos passos que trazem conquistas expressivas nessa transformação do relacionamento consigo. Pode acreditar.

Mudando sua autoconversa crítica

Esse exercício também é ideal para se começar logo, mas é um desenvolvimento de longo prazo mudar a forma como falamos com nós mesmos. Isso é possível de ser feito por escrito, em um caderno, ou diário, por exemplo, falando em voz alta, ou pensando em silêncio.

  1. O primeiro passo para transformar a autocrítica excessiva é percebê-la, o que pode ser um desafio para muitos de nós, acostumados a esse tipo de tratamento. Então, quando se sentir mal com alguma coisa, pare e pense no que acabou de dizer para si. Quais palavras você normalmente usa, em qual tom e o que (ou quem) essa voz o faz lembrar? Um ótimo exemplo dado pela pesquisadora no livro: você acabou de comer metade de uma caixa de bombons, e sua voz interior disse algo do tipo “como você é nojento!”.

  2. Uma vez identificada essa voz, é hora de suavizá-la, sem julgamentos. Não vamos devolver a ela o que nos trouxe, mas usar outra abordagem, a que queremos ter conosco. Diga a ela algo como: “eu sei que você se preocupa comigo, com minha felicidade e com o que os outros pensam de mim, para me manter seguro. Mas essas críticas não me ajudam, só me fazem querer comer mais e me sentir pior comigo mesmo”.

  3. Depois, reformule as observações do eu crítico para uma linguagem gentil, amigável e positiva. Pense em como um amigo muito compassivo diria isso a você. Algo como: “eu sei que você está mal e tentou se sentir melhor comendo aqueles bombons. Mas no fundo a gente sabe que isso não ajuda, né? Tudo bem, agora já foi. Que tal, então, a gente sair para fazer uma caminhada mais longa, para espairecer? Assim liberamos endorfina, tomamos um ar e voltamos melhores do que saímos”. Pode ajudar, aqui, se acariciar e se abraçar, como proposto no exercício anterior.

Neff enfatiza: não conseguimos interromper ou impedir pensamentos julgadores. Mas não precisamos incentivá-los e nem acreditar neles. Aliás, pode ser que, ao pensar sobre o conteúdo da mensagem do eu crítico, você perceba que ela não é necessária, ou construtiva. Ou seja, está tudo bem e essa parte de você está apenas ansiosa, querendo te proteger, por exemplo.

Nesse caso, vale usar o terceiro passo para responder compassivamente a ela e a si mesmo sobre como essa fala foi fruto da ansiedade, por exemplo. Que não há nada a temer e que você está indo bem. Como falaria a um amigo que está se cobrando demais.

Assim, a autocompaixão é muito mais poderosa para atingirmos nossos objetivos e mudarmos nossa realidade do que a autocrítica. Então por que não tentar?

Texto: Marcela Braz.

Leo na Mídia: Portal Conteúdo Aberto – Contra o bullying, independência

Em seu novo artigo no Portal Conteúdo Aberto da FTD Educação, Prof. Leo Fraiman defende que, para combater o bullying de maneira efetiva, é essencial que crianças e jovens desenvolvam independência emocional e um senso de identidade fortalecido.

Leo destaca que o uso excessivo da tecnologia pode nos afastar do convívio real, enfraquecer nossas relações e até normalizar comportamentos nocivos, como a violência e a intolerância.

Confira o artigo completo clicando aqui!

Por que parece que você não está sendo empático

Já aconteceu de você oferecer tempo, escuta e palavras para alguém que não estava bem – seja na escola, ou em casa – e isso não “dar certo”? Às vezes fica um silêncio constrangedor, o assunto acaba de repente, ou até a pessoa se irrita, diz que você não se importa, que não a entende.

Pois bem, isso acontece porque, mesmo com a melhor intenção do mundo, é possível usar alguns bloqueios para a expressão da empatia. Nesses casos, o interlocutor não se percebe sendo visto ou compreendido, mesmo quando existe uma preocupação genuína com seu estado emocional.

Por isso, um dos pilares da Comunicação Não Violenta é chamado “receber com empatia”. Trata-se do processo de prestar atenção ao que os outros estão observando, sentindo, precisando e pedindo.

A empatia requer concentração plena no que está sendo dito. O outro precisa de tempo e espaço para se expressar completamente e se sentir compreendido. Pensando nisso, no livro “Comunicação Não Violenta – técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais”, o sistematizador da CNV, Marshall Rosenberg, cita um ditado budista sobre essa capacidade de presença: “não faça nada, só fique sentado”. 

Claro, isso não significa que é preciso ser um robô e em nenhum momento se pode acolher alguém, oferecer um abraço, dar algum conselho, ou demonstrar solidariedade. Mas primeiro é preciso não fazer nada e “ouvir com a alma”, deixar de lado as elucubrações intelectuais e a vontade de resolver a situação. E, principalmente, ter a consciência de quando se está sendo empático e quando se está sendo solidário – ou fazendo outra coisa.

Veja abaixo alguns exemplos de obstáculos para a empatia: 

Aconselhar

“Acho que você deveria…”

“Se eu fosse você, faria isso.”

“Por que você não fez assim?”

Competir pelo sofrimento

“Isso não é nada, vou te contar o que aconteceu comigo…”

Consolar

“Não foi sua culpa, você fez o seu melhor.”

Interrogar

“Quando foi que isso começou?”

Encerrar o assunto

“Ah, não fique assim. Vai passar.”

“Mas qual é o problema de ter essas atitudes?”, é possível se perguntar. Com todas elas interrompemos nossa presença de ouvir a fala do outro e deixá-lo se expressar totalmente, muitas vezes literalmente o interrompendo. 

Por exemplo, quando tentamos consertar o problema, ou fazer nosso interlocutor se sentir melhor, mesmo que aparentemente ele tenha terminado de falar, bloqueamos o tipo de presença que a empatia requer. E, por vezes, cortamos a conversa.

A escuta empática, ao contrário, cria e fortalece a conexão entre as partes. Oferece espaço para a pessoa se explorar e expressar seu mundo interior com mais profundidade. 

Não é fácil se conscientizar desses bloqueios tão comuns e automáticos em nossas conversas. Mas é um ponto de partida para ter conexões e diálogos melhores com as pessoas.

Texto: Marcela Braz.

Como fazer boas metas e cumpri-las

Mais um ano se inicia com as boas e velhas resoluções de Ano Novo: emagrecer, se exercitar mais, comer melhor, beber mais água, poupar dinheiro, entre outras. Mas qual é o grande problema desses objetivos? Por que normalmente não conseguimos terminar o ano com a sensação de dever cumprido?

Note como essas resoluções são genéricas. Emagrecer – quanto? Exercitar-se – por quanto tempo e quantas vezes por semana? Comer melhor – quais alimentos, em qual quantidade, com qual objetivo?

Então, como vamos sentir que o dever foi cumprido se o dever não está claro? Essa é a base deste post: trazer clareza para os desejos e transformá-los em metas mensuráveis e objetivas. Quer driblar as estatísticas e não se sentir mal quando a Simone cantar “então é Natal, e o que você fez?”? Veja as dicas abaixo:

 

1 – Defina o que realmente é importante para você neste momento de vida

Primeiro precisamos nos descolar das expectativas alheias e das convenções impostas socialmente. Culturalmente, foi estabelecido que sucesso significa ter um carro, casar, ter filhos etc. Mas essas coisas são importantes para você, ser individual? Depois, é importante avaliar as prioridades do momento. Pode ser que viajar seja algo que você valorize muito. Mas, agora, isso continua tendo a mesma precedência? Outro objetivo pode ser mais importante? Isso não significa que metas de viagem não possam retornar. Apenas que suas prioridades e necessidades mudaram. Então faça o exercício de listar seus sonhos de vida e definir quais são mais caros para seu momento atual. E quais são de longo prazo e precisam que passos comecem a ser dados agora. Além de identificar os que ficarão para depois.

 

2 – Transforme o sonho em meta

Definidos os sonhos mais valiosos, um caminho é torná-los metas SMART. Ou seja, específicas, mensuráveis, atingíveis, realistas e com prazos. Por exemplo, peguemos a resolução “fazer mais exercícios”. Qual vai ser o exercício? Ele será feito por quanto tempo e quantas vezes na semana? Que horas? Pense em práticas que você gosta, que te estimulam, que são possíveis de serem feitas. Avalie sua rotina, seus horários e compromissos: em quais dias e horários é realista fazê-las?

 

3 – Para grandes metas, defina marcos menores

No caso de fazer uma viagem, por exemplo, considere quando serão compradas as passagens, quando será reservada a estadia, se há passeios a serem fechados e com quanta antecedência isso precisa ser feito. Quanto cada um desses fatores vai custar? Esse dinheiro já existe, ou é preciso também traçar metas financeiras? Com essa clareza, é possível programar cada compra com uma meta. Como ter o valor da estadia até a data “x”, comprar o voo até o dia “y”.

 

4 – Tenha planos de contingência

Não somos máquinas, certo? Imprevistos acontecem, pessoas falham, coisas quebram e nossos planos precisam se flexibilizar. Então se estipulei que vou meditar todos os dias de manhã, ao acordar, pode acontecer do despertador não tocar, ou de me atrasar. Então posso me antecipar e me programar para isso. Quais são os obstáculos que podem interferir em seus objetivos? Pense nos acontecimentos que normalmente entram no caminho dos seus sonhos e se planeje para contorná-los: “se acordar atrasada, vou meditar antes do almoço”. Acima de tudo, tenha autocompaixão. Como você pode perceber, conquistar metas envolve muitos elementos: hábitos, recursos, pessoas, eventos externos. Não se cobre estar acima de tudo e de todos. Mas saiba que, com carinho, metas bem traçadas, paciência e disciplina, conseguimos conquistar muitas alegrias na vida.

 

Texto: Marcela Braz.

O medo e o filme “Órion e o medo do escuro”

Todos sabemos como é. Pode vir um frio, um embrulho no estômago, ficamos ofegantes, suamos e até trememos, tudo ao mesmo tempo. Pois é, o medo é uma das emoções mais desconfortáveis para nós. Outro motivo de incômodo é seu gatilho universal: ele aparece quando há uma ameaça de sofrermos algum tipo de dano, seja ele real ou imaginário. 

Por isso, entre seus estímulos está ele, o escuro. Porque no escuro não vemos com clareza. Não sabemos se aquela forma é a de uma folha, ou de uma barata. Se realmente tem alguém no seu quarto, ou se é apenas o mancebo, com várias roupas penduradas. Isso porque estamos na cidade, por vezes em um prédio, dentro de um apartamento. Trancado. Seguro. Mas imagine andar sozinho por uma floresta escura, sem lanterna. Medo.

E isso porque somos adultos. Mas o medo do escuro é uma questão frequente de crianças, cuja imaginação fértil facilmente vê um monstro debaixo da cama, ou dentro do armário. Quem garante que não há? 

Esse tema foi abordado de forma muito delicada no filme “Órion e o medo do escuro”, lançado este ano pela DreamWorks. Na animação, o carismático Escuro – uma personificação da ausência de luz –, fica chateado por ser tão mal visto pelas pessoas. Então ele convida Órion para embarcar em uma jornada por sua existência: passar um dia inteiro com ele. 

Vale lembrar que o menino se considerava muito medroso. O filme começa com uma longa lista de todos os seus medos, variando de altura a abelhas. E a escuridão é o maior deles. Então, enfrentar seu maior temor, dar as mãos a ele e encarar o desconhecido – onde poderiam estar inúmeras ameaças – não é uma tarefa fácil.

O que acontece no escuro? Como a ausência de luz afeta a natureza, os animais, os humanos e a vida no planeta? Como seria a vida sem ele, com o Sol reinando sobre a Terra todos os dias, sete dias por semana, 365 dias por ano, sem descanso? A animação aborda todas essas questões.

Mas além desse ser um filme infantil, em que as crianças podem aprender a não ver o escuro como algo ameaçador, há componentes para toda a família. A obra traz reflexões profundas sobre o enfrentamento de nossos temores, muitas vezes advindos do desconhecido. O medo do escuro é o de algo que não estamos vendo.

Ou seja, quando Órion se permite explorar o que teme e descobrir do que realmente se trata, percebe que não há motivos para temer. Trata-se de uma alusão a como encaramos a vida, seus mistérios e aquilo que não controlamos.

Podemos ter medo de fazer um exame médico, de abrir um e-mail do chefe, de começar nosso próprio negócio, de participar de uma competição… Tudo porque não sabemos no que vai dar. Ou seja, o estudo das possibilidades, a preparação e o conhecimento são elementos que podem dissipar, ou minimizar esse medo. Mas, em alguns casos, não tem jeito: é preciso dar as mãos ao medo e se jogar. Só assim saberemos. Só assim Órion soube.

Texto: Marcela Braz.