
Família e escola: a urgência do trabalho conjunto
“Aluno é transitório, filho é para sempre.” A citação magistral de Içami Tiba, médico e escritor, nos permite refletir sobre essa relação tão essencial entre a família e a escola.
Sem dúvidas, os primeiros professores da vida são as famílias. O início do desenvolvimento das habilidades comportamentais ocorre dentro de casa, e são inúmeros aprendizados que surgem por meio dos estímulos e das orientações desses responsáveis.
A família é o primeiro ambiente onde os valores, as atitudes e as crenças são transmitidos. Depois, a escola vai ampliar esse conhecimento e proporcionar a rica convivência com a diversidade. Assim, se essas duas instituições souberem fazer um trabalho conjunto, certamente vão contribuir com excelência para o sucesso escolar.
É urgente constatar que a aprendizagem necessita desse conjunto, que as estratégias precisam transitar com responsabilidade em direção aos planejamentos da escola.
“Família é bem maior
É aconchego, é lar
É a escola primeira
Lição de amor e de amar
É a certeza de colo,
De ninho para regressar”
Bráulio Bessa, poeta brasileiro.
Segundo a BNCC, a entrada na escola por meio da educação infantil significa, na maioria das vezes, a primeira separação das crianças do contexto familiar, para se incorporarem a uma situação de socialização estruturada. Os dois contextos em que a criança está inserida precisam estar alinhados para garantir a segurança do desenvolvimento, a ampliação contínua da maturação e proporcionar ambientes para que os processos sejam garantidos por professores e responsáveis.
O foco deve estar no relacionamento, não nos papéis distintos. A relação entre família e escola conjuga o verbo no plural, a partir do momento em que se compreende a importância dessa soma: para sempre seremos nós.
Aristóteles, filósofo grego, definiu o termo “família” como sendo uma comunidade em que a casa (oikós) deve servir de base para a cidade (pólis). Paulo Freire, educador e filósofo brasileiro, completa dizendo que a educação é um ato político, em que a família e a escola devem se unir para angariar bons resultados e práticas. Para ele, a família tem o dever de acompanhar o processo de aprendizagem, ter uma comunicação aberta com os professores e contribuir com a gestão democrática da escola.
Outros estudiosos trazem observações significativas sobre a relação intrínseca da família com a escola e dialogam sob a mesma perspectiva. Vygotsky, psicólogo russo, foi pioneiro em conceituar que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e das suas condições de vida. Segundo ele, a família é a responsável por fornecer o alicerce emocional e social aos educandos.
Piaget, psicólogo suíço, um dos pensadores mais importantes do século XX, acreditava que a família e a escola eram dois ambientes importantes para o aprendizado e a formação da personalidade. Ele defendia a ideia de que a educação deve ser baseada na interação entre todas as partes envolvidas no processo.
“Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.” – Rubem Alves, educador e escritor brasileiro.
Como o maior desejo das famílias e também das escolas é contemplar os voos mais altos de seus filhos e alunos, certamente todos esses olhares estarão voltados para o mais belo dos horizontes. Dessa forma, acompanhar as atividades dos filhos, manter o diálogo aberto e a escuta ativa com a escola, contribuir com as regras e projetos pedagógicos, valorizar os resultados e os avanços, incentivar o estudo e a leitura são práticas infalíveis que todas as famílias devem ter para se obter bons resultados durante o curso escolar de seus filhos.
Bem como à escola se faz necessário acolher as necessidades individuais, oferecer espaços para o diálogo claro e transparente com as famílias, promover oportunidades de formação e conhecimento à comunidade escolar. É um desafio diário e contínuo de responsabilidade, respeito e compromisso.
A consequência imediata é promover um ambiente harmonioso, seguro, forte em seus vínculos afetivos, que colabora para a formação da autoestima. Alunos se sentem mais confiantes em suas aprendizagens e engajados nas tarefas diárias. Os responsáveis se sentem mais seguros e inclinados a participarem ainda mais da vida escolar dos filhos.Quantas lembranças guardamos da época dos nossos livros, cadernos e professores? A escola tem de ser a mais linda extensão da nossa casa, uma das mais doces lembranças em meio às letras, números e fórmulas. A escola tem de ser a plataforma para a realização de sonhos, conquista de medos e desenvolvimento da coragem para alçar o primeiro de muitos voos ao longo da vida.
Referências bibliográficas:
ALVES, Rubem. Por uma educação romântica. 8. ed. Campinas: Papirus, 2009. p. 29-32.
BESSA, Bráulio. Família é bem maior. Encontro com Fátima Bernardes, TV Globo, 12 maio 2017. Disponível em: https://gshow.globo.com/programas/encontro-com-fatima-bernardes. Acesso em: 7 ago. 2025.
Texto: Kelly Silva.