
Por que parece que você não está sendo empático
Já aconteceu de você oferecer tempo, escuta e palavras para alguém que não estava bem – seja na escola, ou em casa – e isso não “dar certo”? Às vezes fica um silêncio constrangedor, o assunto acaba de repente, ou até a pessoa se irrita, diz que você não se importa, que não a entende.
Pois bem, isso acontece porque, mesmo com a melhor intenção do mundo, é possível usar alguns bloqueios para a expressão da empatia. Nesses casos, o interlocutor não se percebe sendo visto ou compreendido, mesmo quando existe uma preocupação genuína com seu estado emocional.
Por isso, um dos pilares da Comunicação Não Violenta é chamado “receber com empatia”. Trata-se do processo de prestar atenção ao que os outros estão observando, sentindo, precisando e pedindo.
A empatia requer concentração plena no que está sendo dito. O outro precisa de tempo e espaço para se expressar completamente e se sentir compreendido. Pensando nisso, no livro “Comunicação Não Violenta – técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais”, o sistematizador da CNV, Marshall Rosenberg, cita um ditado budista sobre essa capacidade de presença: “não faça nada, só fique sentado”.
Claro, isso não significa que é preciso ser um robô e em nenhum momento se pode acolher alguém, oferecer um abraço, dar algum conselho, ou demonstrar solidariedade. Mas primeiro é preciso não fazer nada e “ouvir com a alma”, deixar de lado as elucubrações intelectuais e a vontade de resolver a situação. E, principalmente, ter a consciência de quando se está sendo empático e quando se está sendo solidário – ou fazendo outra coisa.
Veja abaixo alguns exemplos de obstáculos para a empatia:
Aconselhar
“Acho que você deveria…”
“Se eu fosse você, faria isso.”
“Por que você não fez assim?”
Competir pelo sofrimento
“Isso não é nada, vou te contar o que aconteceu comigo…”
Consolar
“Não foi sua culpa, você fez o seu melhor.”
Interrogar
“Quando foi que isso começou?”
Encerrar o assunto
“Ah, não fique assim. Vai passar.”
“Mas qual é o problema de ter essas atitudes?”, é possível se perguntar. Com todas elas interrompemos nossa presença de ouvir a fala do outro e deixá-lo se expressar totalmente, muitas vezes literalmente o interrompendo.
Por exemplo, quando tentamos consertar o problema, ou fazer nosso interlocutor se sentir melhor, mesmo que aparentemente ele tenha terminado de falar, bloqueamos o tipo de presença que a empatia requer. E, por vezes, cortamos a conversa.
A escuta empática, ao contrário, cria e fortalece a conexão entre as partes. Oferece espaço para a pessoa se explorar e expressar seu mundo interior com mais profundidade.
Não é fácil se conscientizar desses bloqueios tão comuns e automáticos em nossas conversas. Mas é um ponto de partida para ter conexões e diálogos melhores com as pessoas.
Texto: Marcela Braz.