Efeitos golem e pigmaleão: nosso poder sobre o desempenho escolar dos alunos
Nos anos 1960, o psicólogo americano Bob Rosenthal descobriu que a expectativa dos professores pode influenciar os alunos e afetar sua performance na escola. Ele chamou essa descoberta de efeito pigmaleão, em referência ao mito grego do escultor Pigmaleão, que gostou tanto de uma de suas estátuas que os deuses deram vida a ela.
O fenômeno é semelhante ao efeito placebo, quando um paciente melhora de um sintoma físico, ou se cura, sem que tenha tomado um fármaco com eficácia comprovada – ele se cura a partir da sua crença de estar sendo curado. Mas, no caso do efeito pigmaleão, a convicção beneficia o outro, em vez de o autor da certeza.
Ao longo dos anos, a descoberta foi testada em centenas de estudos no exército, em universidades, nos tribunais, em famílias, em casas de repouso e em empresas, conforme elenca o livro “Humanidade – uma história otimista do homem”, de Rutger Bregman. O autor reforça como altas expectativas podem ser uma ferramenta poderosa que, usada por administradores, por exemplo, leva funcionários a terem melhor performance.
E o contrário, por sua vez, também é verdadeiro. O chamado efeito golem, o de ter expectativas negativas em relação a alguém, está relacionado à lenda judaica de um golem – criatura feita de barro, que ganha vida. Criado para proteger os cidadãos judeus de um gueto de Praga, na República Tcheca, o ser mítico acaba se transformando em um monstro.
Menos estudado pela comunidade científica do que o pigmaleão, o efeito golem “faz maus alunos ficarem ainda mais atrasados, pessoas em situação de rua perderem as esperanças e adolescentes marginalizados se radicalizarem”, escreve Bregman. Ele também relaciona seus malefícios às consequências do racismo sobre as populações não brancas, sujeitas a baixas expectativas e, por isso, têm seu desempenho prejudicado.
Décadas depois da formulação dessas teorias, o resultado desses fenômenos pode ser observado em nossas próprias vidas e nas de nossos conhecidos. Basta pensar nas atividades e nas matérias escolares em que se foi incentivado ou elogiado, ou no que os adultos diziam sobre sua inteligência e sua capacidade dentro e fora da escola.
Além do posicionamento e da expectativa dos professores e cuidadores, existem muitos outros fatores biopsicossociais implicados no rendimento escolar. Ou seja, estão envolvidos nessa equação desde a genética e os aspectos biológicos e psicológicos, até os contextos sociais e ambientais nos quais o jovem está inserido e aos quais está exposto.
Assim, o professor não é responsável inteiramente pela aprendizagem dos alunos. Mas é um personagem fundamental, para além da didática, como mostram os efeitos golem e o pigmaleão. Sabemos que somos seres sociais, que nos espelhamos uns nos outros e precisamos ser aceitos pelo bando para garantir a sobrevivência.
Então, além de investir em aulas ricas, didáticas e envolventes, também é importante considerar: qual é o impacto das nossas expectativas sobre os alunos? Quais tendências estamos incentivando: o efeito golem, ou o pigmaleão?
Texto: Marcela Braz.