Solidariedade: como praticar sem se exaurir?
Muitos estudos mostram que dar nos traz mais felicidade do que receber, e que praticar a solidariedade tem impacto na nossa sensação de bem-estar. O altruísmo reduz o estresse, sintomas de ansiedade e beneficia quem tem depressão, além de favorecer a autoestima, gerar empatia e otimismo e aumentar a sensação geral de gratidão.
Mas, quando o tema é fazer bem ao outro, podemos pensar em grandes gestos, ou projetos voluntários que exigem muito tempo, ou recursos que não temos. Outro desafio pode ser o da dificuldade de se encarar o sofrimento humano, como se a benevolência só pudesse acontecer de maneira direta, no contato com grupos de pessoas em risco, ou em grande vulnerabilidade.
Pensando nisso, a ideia desse post é explorar as várias maneiras com as quais cada um pode doar seu tempo, seus recursos e até sua presença respeitando seus limites e condições, sem que isso se torne um peso. É um convite a pensarmos nas pequenas maneiras de introduzir este hábito no nosso dia a dia e lembrar dos imensos benefícios que nos traz.
O que está a seu alcance fazer? Ouvir outro ser humano com total presença e atenção, por exemplo, parece algo pequeno, mas é um bem escasso em tempos de pressa e com excesso de telas. Praticar a escuta ativa, diminuindo o volume dos julgamentos e segurando o impulso de pensar em qual resposta dar, é algo valioso para oferecer.
Doar roupas e objetos que não nos servem mais também é uma maneira simples de se beneficiar e proporcionar algo a quem precisa. Quem prefere colaborar financeiramente pode escolher um projeto ou causa com a qual se compadeça para fazer contribuições mensais, do valor que preferir.
O projeto 365give, fundado pela canadense Jacqueline Way – cujo Ted Talk vale a pena assistir –, ensina, inspira e capacita pessoas a doar, com o objetivo de ajudar a construir um mundo mais feliz e compassivo 365 dias por ano. A premissa é que é possível ser feliz todos os dias fazendo um pequeno ato de bondade, em qualquer uma dessas instâncias: pessoal (pensando em pessoas mais próximas), comunitária, global e ambiental.
Um de seus recursos disponíveis é uma newsletter que dá ideias do que podemos fazer pelos outros, seja outra pessoa, outro animal, ou um benefício para o planeta. Alguns exemplos simples do que chamam de “people give”, ou seja, de uma doação para pessoas, é deixar alguém passar na sua frente na fila, ou fazer um elogio a alguém. Outro, mais robusto, é doar dois dias de água potável, por meio de algum projeto específico voltado para isso.
Doar um celular antigo, abrir a porta para alguém, reduzir o tempo no banho, ser lar temporário para um animal, plantar alguma coisa, agradecer um professor, gerente, ou colega: todas essas contribuições são válidas. Em vez de cedermos ao viés de “ou tudo, ou nada”, pensando que precisa ser algo de grande impacto, que tal começar pequeno?
O importante aqui é avaliar: o que é possível fazer hoje? Se for apenas sorrir para o cobrador do ônibus, que seja. Se algum dia, com mais tempo e mais energia, for viável recolher algumas embalagens jogadas na areia da praia, voltando de um mergulho no mar, ótimo!
Pensando assim, fica mais fácil de chegarmos a realizar um grande feito. E, na pior das hipóteses, já teremos 365 dias de pequenas doações e doses diárias de felicidade para relembrar.
Texto: Marcela Braz